A evolução do “open source”
Por Djalma Andrade*
O termo aberto tem orientado a evolução da Tecnologia da Informação (TI) há mais de 30 anos. Da mesma forma, a Microsoft trabalha para acompanhar e suportar essa tendência, embora muitos tenham dificuldade em enxergar essa relação próxima.
Façamos aqui uma breve retrospectiva: na década de 80, a computação pessoal tornou-se parte fundamental da TI por conta de sua arquitetura aberta, que permitiu a diferentes fabricantes, tanto de hardware quanto de software, trabalharem sobre padrões comuns. De um lado, com base em produtos como o MS-DOS e o Windows, o PC democratizou a computação, dando aos desenvolvedores a capacidade de ampliar a flexibilidade e potência de seus aplicativos. De outro lado, em paralelo, Richard Stallman conduziu outra revolução ao trazer para o mercado do GNU, um sistema operacional compatível com UNIX e totalmente gratuito. Ainda nos anos 1980, ele estabeleceu, em 1985, a Free Software Foundation e criou a primeira versão da Licença Pública Geral (General Public License), mais conhecida por sua sigla GPL.
Na década seguinte, quando os protocolos TCP/IP e HTTP transformaram-se em linguagem comum, vieram a revolução da internet e abertura das redes. Aqui, o Windows rapidamente absorveu o TCP/IP em suas funções de rede, e a Microsoft se posicionou de forma a beneficiar-se da nova onda de inovação que seguiria. Em 1991, Linus Torvalds iniciou sua busca por um sistema operacional UNIX para o seu PC com processador 80386. Praticamente rodas as versões do UNIX custavam milhares de dólares e apenas uma ou duas delas conseguiam de fato aproveitar todos os recursos do 80386. Ele então decidiu escrever seu próprio kernel Unix.
Apenas em 1998 o termo "open source" ou código aberto, na tradução para o português, foi criado pelos fundadores da Open Source Iniciative.
Dos anos 90 para cá, vimos uma explosão de comunidades baseadas na internet, serviços de hospedagem e aplicativos web na grande rede de computadores conhecida como World Wide Web. Com isso, se deu a revolução da Web 2.0, pela qual qualquer pessoa no mundo com acesso a um browser e conexão à internet pode facilmente publicar conteúdo em sites de redes sociais, compartilhamento de vídeos, wikis e blogs. A Web 2.0 deu caminho a uma nova onda de abertura, colaboração e participação em comunidades, incluindo o compartilhamento de pensamentos indiviuais em blogs pessoais acessíveis a milhares de pessoas.
Cada uma dessas revoluções mencionadas aqui em cima foi caracterizada por um ponto de ruptura que conduziu à migração dos ambientes de negócios existentes para um mundo de novos mercados e novas oportunidades para a inovação.
Na Microsoft não foi diferente: a empresa atingiu um novo ponto de inflexão, que foi a adoção comercial do open source.
Atualmente, mais de 80.000 aplicativos de código aberto rodam sobre o Windows. Entre eles estão o browser Mozilla Firefox e software de colaboração corporativa e gestão de conteúdo de internet de ISVs como MindTouch e DotNetNuke, até games para computador e CRM de código aberto da SugarCRM.
O código aberto comercial ganhou força crítica para se tornar parte do atual ecossistema de software da Microsoft. Surgem novos modelos de negócios, como o "open core", pelo qual os ISVs conseguem oferecer produtos de código aberto gratuitos para o núcleo e comercializar recursos adicionais que somem valor aos seus serviços. A Microsoft aproveita essa oportunidade para trabalhar em parceria com a comunidade open source de forma a entregar soluções comerciais melhores e ampliar seu ecossistema "open edge".
É verdade que a Microsoft adota um modelo de negócios incomum entre os grandes provedores de tecnologia. No entanto, embora a maioria das pessoas ainda não tenha se dado conta, mais de 90% da receita da companhia é oriunda de fontes indiretas. Ou seja, a Microsoft depende muito de seus parceiros, ISVs, desenvolvedores de terceiros e clientes para alcançar o sucesso. Como não está estruturada sob um modelo de vendas diretas, a empresa é parte de um ecossistema de software que prospera ou fracassa como um todo.
Por isso, a Microsoft dá ouvidos àquilo que seus clientes lhe dizem. A companhia sabe que o open source pode ter papel importante na gestão de custos e riscos e que as alternativas de código aberto aumentam as opções de escolha e reduzem a dependência de usuários em um único fabricante. Mais do que isso, a empresa sabe também que a maior concorrência no mercado open source tem forte impacto não só na redução de preços, mas também no avanço das inovações, compartilhamento de idéias e influência de um player nos resultados do outro.
A inovação pode romper barreiras e mudar o rumo dos negócios, principalmente quando ela vem de fora da companhia. É fato que a maioria dos executivos detesta surpresas, mas elas são parte da natureza da abertura no mundo da tecnologia. É impossível conseguir prever novidades ou tentar controlá-las.
A estratégia open source da Microsoft é permitir a inovação do software de código aberto como parte de seu modelo "open edge" de negócios – caracterizado por uma plataforma ou "core" gerenciada comercialmente, que beneficia seu amplo ecossistema de desenvolvedores e parceiros. Essa plataforma dá aos desenvolvedores de código aberto a oportunidade de chegar a mais de um bilhão de clientes em todo o mundo.
O sucesso da companhia está diretamente relacionado ao êxito de seus parceiros, e ambos tiram proveito das metodologias e licenciamento do desenvolvimento de código aberto, contribuição para as comunidades open source e com parceiros da indústria e concorrentes.
* Djalma Andrade é gerente de segurança da Microsoft e coordenador do Movimento Internet Segura (MIS), comitê da Camara-e.net dedicado à orientação do internauta sobre as melhores práticas de navegação.