Divagando sobre modismos e computação
Lembro-me sempre de uma história real relatada num livro do Carl Sagan sobre como a população em volta de um lago no Japão gerou o desenho de um samurai nas costas dos sapos que habitavam este lago. Segundo o livro, uma lenda de reencarnação de samurais como sapos fez com que a população não se alimentasse daqueles sapos cujas listas nas costas lembrassem os desenhos de um rosto de um samurai. Com o tempo, os sapos que sobraram eram justamente os que tinham estes traços e estes, por sua vez, levaram esta característica genética para seus filhos. Lembro-me até hoje da foto de um sapo em que algumas linhas na sua costa realizavam uma reprodução perfeita de um desenho japonês de um samurai.
Os produtos e software de informática parecem sofrer deste mesmo processo. Ao longo do tempo vamos acreditando em certas qualidades, copiando e “melhorando” processos ou linhas de produto de tal forma que, ao final, todos se comportam de uma forma semelhante.
Hoje temos a Arquitetura Orientada a Objetos, a Web 2.0, a computação na nuvem (ou em nuvem), a orientação a objetos, etc. Alguns chamam isto de paradigmas. Gosto de chamar de teleologias: lógicas que criamos par explicar ou determinar o propósito final de um design, natural ou não.
Querem um exemplo clássico de teleologia? A idéia de que as espécies visam a sua perpetuação. Está é uma possibilidade, mas existem outras. Por exemplo, podemos pensar que as espécies vão sofrendo modificações aleatórias e que acasos, como mudança de clima, etc., façam com que os animais com algumas características particulares sobrevivam enquanto os outros não. Assim, a espécie não se modificou visando a sua perpetuação, mas se perpetuou porque tinha casualmente a modificação correta para o novo contexto.
Arquitetos são mestres evangelizadores de teleologias. Eles criam as regras que definem as boas qualidades de um projeto de software e tentam fazer com que os projetos sigam estas regras. É um poder e tanto – para o bem ou para o mal!
Outro dia, em conversa com MVP’s da Microsoft, contei uma estória antiga sobre teleologias que podem ser úteis neste contexto. Aqui vai...
“No Egito Antigo, havia uma crença de que um único homem era Deus. Por causa desta idéia, milhares de homens/mulheres dedicaram a vida para construir as pirâmides fantásticas que temos até hoje.
Na Idade Média e Renascença, havia a crença de um Deus criador a que todos nós devíamos dedicação e obediência. Por causa desta idéia, a humanidade criou igrejas de arquiteturas magníficas mais todo um conjunto de artes, como a pintura, a escultura, etc., que nesta época floresceram. Temos estas igrejas como monumentos de visitação até hoje.
Na idade moderna um novo deus surgiu, chamado razão. E se há algum objeto que incorpore melhor a razão, este é o computador. Isto explica porque milhares de homens/mulheres se dedicam a construir monumentos de milhões de linhas como os Sistemas Operacionais e ERP’s, que a cada 5 anos jogamos fora para construir um mais moderno.”
Bom feriado!